sexta-feira, 19 de novembro de 2010

desabafo

today was a bad day, a very bad day...

hoje eu fiquei com ódio da minha vida atual, de ter que depender de alguém para as tarefas mais simples do meu dia a dia. ou você, prezado leitor, acha que eu fico feliz de ter que pedir ajuda para me virar na cama sem bagunçar os lençois? sem contar que ao me virar na cama sozinho eu sinto dores horríveis nas minhas costas. não é fácil ser eu these days.

These days–Bon Jovi

e a letra dessa música do Bon Jovi parece perfeita para o meu momentum… veja, estimado leitor:

these days the stars seem out of reach, yeah
but these days there ain't a ladder on the streets
oh no, no, no
these days are fast, love don't lasts in this graceless age
even innocence has caught the midnight train
and there ain't nobody left but us these days

eu não to feliz. não to me sentindo bem. não suporto mais ter que lembrar de fazer um milhão de coisas em horários determinados. não aguento mais usar fraldas. mijar por uma sonda. tomar uma pancada de remédios. sentir dores horríveis nas minhas pernas sem saber se isso é bom ou ruim, se eu vou voltar a caminhar ou não.

eu sei que “everybody's got their cross to bare, these days”, mas eu não to mais afim de carregar a minha cruz. to de saco cheio. really.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

chegar junto

quando encontro alguém que valha a pena querer beijar e carregar no colo, e fazer carinho pelo corpo todo, eu fico meio bobo. isso acontece com você também, estimado leitor? eu fico meio que sem saber o que fazer, o que dizer... não sei se devo agir ou esperar, se devo falar alguma coisa ou permanecer quieto.

você também tem essas dúvidas crueis, prezado leitor??

são dúvidas mortais que inundam meu pensamento e me deixam sem ação. sei que as melhores mulheres sempre são daqueles que não tem vergonha de agir, de chegar. mas e se o meu charme for justamente o fato de não chegar de primeira e conquistar a mulher amada aos poucos, com atitudes certinhas, frases bem colocadas e situações favoráveis. e se o meu charme for justamente o contrário do que dizem por aí?

eu, além de todas essas dúvidas, ainda por cima tenho a insegurança de quem está paraplégico. digo-lhe, caro leitor, não é fácil ser eu. não hoje em dia. eu preciso de ajuda pra um monte de coisas, até para andar na rua; não sei se eu conseguiria andar duas quadras sem precisar de ajuda de alguém pra subir um degrau de uma calçada ou uma rampa mal planejada em uma esquina qualquer. não está fácil ser eu nowadays.

domingo, 14 de novembro de 2010

devaneios

minha fisioterapeuta me acha misterioso. segundo ela eu não sou de falar muito, mas meus olhos dizem muitas coisas. isso me fez pensar a meu respeito. eu realmente me tornei uma pessoa mais séria, mais calada, observadora, contrastando com a impulsividade com que arianos normalmente tem.

me fez pensar se isso é bom ou ruim. de uns tempos pra cá eu comecei a me questionar se era melhor ficar calado a dizer uma bobagem, ou falar besteiras ao léu, sem medir as palavras. eu escolhi a primeira opção. talvez essa minha escolha fez com que a fisioterapeuta pensasse que eu tenho esse ar misterioso. eu contemplo as coisas muito mais do que interajo com elas. esse é o meu jeito agora. gostem ou não.

e parece que a maioria não gosta. haja vista minha mãe, que reclama que eu não falo com ela o bastante. segundo ela, eu deveria sorrir mais, "porque a vida está me filmando". eu realmente sorrio pouco também.e eu sei que eu deveria sorrir mais.

mas como sorrir mais na minha situação? você, leitor que me acompanha a mais tempo sabe dos tormentos a que eu me submeti nos últimos 18 meses. tem como sorrir mais e não ser contemplativo? durante esse ano de 2010 eu passei a maior parte do meu tempo deitado em uma cama. como poderia eu estar sorrindo mais?

tem gente que vê uma oportunidade em tudo. esse, definately, não sou eu. eu penso demais e nunca chego a um final satisfatório para mim. sempre chego à pior conclusão. as circunstâncias da vida me fizeram ser um pouco mais duro comigo mesmo. me fizeram me cobrar mais pelas minhas atitudes e pensamentos. e isso reflete nesse ser humano, cheio de falhas, mas que busca melhorar, mesmo que seja do seu jeito turrão, fechado, "misterioso", como diria a minha fisioterapeuta.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

o ato de mijar

a cada seis horas eu tenho um ritual, desde a minha última infecção urinária, que é fazer uma sondagem de alívio da bexiga. it's my way to pee =/

e eu já to de saco cheio porque é uma cerimônia mijar do meu jeito. tem iodo, saquinho descartável, luvas, sonda nº 12, etc. é uma bosta ter que fazer isso 4x/dia, todos os dias. queria ver você, estimado leitor, se tivesse que mijar the way i do it! eu duvido que você teria a paciência de jó para passar por todo o ritual 4x/dia.

sem contar quando o xixi resolve sair no meio do procedimento, antes de eu ter introduzido a sonda, e eu saio mijando por toda a cama. aí, o procedimento que dura em torno de 20 minutos ao total, demora mais uns dez, e dale lencinhos umedecidos perfumados.

a única coisa boa dessa história: eu duvido que você, garboso leitor, tenha uma genitália tão limpa e cheirosa quanto a minha. pago 100. ; )

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

le scaphandre et le papillon

acho que eu já escrevi sobre a força que nós, homens, temos. é algo inerente ao ser humano essa vontade de viver, de ser, de estar, de sobreviver...

eu acabei de ver um filme que mexeu muito comigo, le scaphandre et le papillon. não sei se você, estimado leitor já teve a oportunidade de ver este filme. é uma história real de um homem que sofre de uma doença rara e fica paralisado totalmente, só podendo comunicar-se com o meio exterior através do piscar de um olho. e ele escreve um livro assim!! putain!!!

enfim, o filme é um tapão na cara da gente, que reclama de tudo o tempo inteiro. leio no twitter gente reclamando das coisas mais banais que existem a respeito da vida. da minha experiência eu aprendi a ser menos reclamão. com o baque que eu sofri a gente acaba por aprender a conviver com problemas bem mais sérios do que a grande maioria das pessoas está acostumada a reclamar. tipo... eu preciso cuidar diariamente da posição das minhas pernas, o tempo inteiro. preciso mudar de posição a cada duas horas - tá certo que às vezes eu fico até seis horas na mesma posição (que a minha fisioterapeuta não leia isso) - mas enfim, preciso estar aware of this all the time.

então, você, prezado leitor, já parou para pensar o quanto você reclama de coisas banais todo dia? você já parou para pensar que a vida que você leva não é pior do que a esmagadora maioria das pessoas do mundo e que existem situações infinitamente piores do que a sua, com seres humanos iguaizinhos a você, por todos os lugares do mundo?

hoje, quando eu reclamo que eu sinto dores horríveis nas minhas costas, eu penso que tem gente que daria a sua vida para sentir a dor que eu sinto porque não sente nada e gostaria de sentir alguma coisa, nem que fosse dor? quando eu reclamo que não sinto quando faço xixi ou cocô, eu lembro que tem gente que precisa usar sondas para faze-los. enfim, você, leitor mais astuto já percebeu onde eu quero chegar.

existe coisa muito pior se olharmos para o lado, e as pessoas não estão reclamando da sua condição. não confunda com resignação. é apenas a aceitação de uma situação que não pode ser mudada pura e simplesmente. não quero pregar nada, nem quero mudar a sua opinião, caro leitor, mas penso que ao colocarmos a mão na nossa consciência por um minuto antes de reclamarmos de alguma coisa estaremos fazendo um grande bem, não para os outros, mas para si mesmo.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

toneladas

neste momento sinto que minhas pernas parecem pesar uma tonelada cada uma. fui procurar a origem do termo tonelada, porque parece que a gente tá jogando um tonel em alguém, tipo: "vou te dar uma tonelada!"

segunda a wikipedia, en español, la palabra tonelada deriva de:

tonel y esta del diminutivo del francés antiguo tonne, tonel grande. Designa una medida de masa en el sistema métrico decimal, y actualmente en el Sistema Internacional de Unidades. Su símbolo es t, aunque también se emplea T o Tm (desaconsejados).

então, não estou tão errado quanto imaginava, cara leitor; tonelada pode ser usada como exemplifiquei antes. mas voltemos às m inhas pernas...

como eu dizia, neste momento sinto que minhas pernas pesam uma tonelada cada. é uma sensação estranha, bizarra, eu diria. mas é boa também. segundo os médicos e fisioterapeutas com quem tenho contato, toda sensação abaixo do nível da lesão é boa, no sentido de que significa que algum sinal está passando pra baixo; sim, a minha medula ficou um pouco esquizofrênica depois do accident e manda esses sinais erráticos pra baixo de onde eu me quebrei. são formigamentos, sensação de queimação, algo como se fossem raios nos meus nervos além de movimentos involuntários nos dedos dos pés; aliás, dia desses, numa manhã ensolarada em que eu estava tomando um sol na grande sacada do meu apartamento eu mandei que meus dedos se mexessem, e dois dedos obedeceram ao meu comando: o segundo do pé direito e o terceiro do pé esquerdo!! não, prezado leitor, eu não tentei mais fazer esse exercício, que, diga-se, foi bastante desgastante, pois tentar mexer com partes imexíveis do corpo humano cansa mais do que mexê-las, propriamente.

mas enfim, queria compartilhar com vocês essa sensação de peso nas pernas que eu to sentindo e que é boa, do ponto de vista médico e do ponto de vista da esperança de voltar a mexer as pernas e, consequewntemente, voltar a caminhar, que é o meu grande objetivo de vida hoje.