sexta-feira, 28 de maio de 2010

o roto falando do rasgado

esse post é dedicado a uma amiga que, antes de tudo, é um ser humano excepcional. o título do post é de autoria dela e, no momento em que ela escreveu esta frase, eu já sabia que isso viraria texto do blog.

a história começou no twitter, quando, tanto eu, quanto ela, chatos que somos, escrevemos coisas que limitam (ou se propõem a limitar) a liberdade de expressão das pessoas. você, leitor que conhece o twitter, sabe que, às vezes, é obrigado a “seguir” aquele amigo/conhecido chato pra caralho, que escreve sem parar e só escreve coisas sem sentido e sem interesse. eu, essa minha amiga e mais outras pessoas que conheço que tem um mínimo de bom senso tentamos, às vezes, com frases sarcásticas ou diretas mesmo, cercear a liberdade dos outros de escreverem aquilo que bem entenderem.

só que aqui nesse ponto, que é onde eu e algumas pessoas concordam, entra uma máxima muito difundida entre nós, de que todo chato é desproporcional. aqueles que não tem bom senso são, no mínimo, pessoas querendo chamar a atenção da tuitosfera através de  microposts chatos, desnecessários e inoportunos.

mas a nossa concordância é fator suficiente para limitar a lioberdade dos outros? o que a gente pode fazer a respeito? chamamos o fulano ou a beltrana e dizemos que ele/ela é chato(a)? simplesmente bloqueamos a pessoa e pronto?

e aí uma simples e ingênua conversa entre o roto e o rasgado vira uma questão moral, ética e filosófica profunda e de interminável discussão: quem pode o quê na internet?

segunda-feira, 24 de maio de 2010

HISTÓRIA DE UM BRÂMANE (HISTOIRE D'UN BON BRAMIN)

esse é um conto do Voltaire que eu queria reproduzir há muito tempo. bom, here it is :

História de um Brâmane apareceu em 1761 na Seconde Suite des Mélanges de Littérature, d'histoire et de Philosophie, com a qual se completam as obras de Voltaire na edição Cramer, de Genebra. Fora entretanto escrita em 1759, porquanto em outubro desse ano Voltaire a enviava à sua amiga, Mme. du Deffand. A moral da parábola, pois é mais uma parábola ou um apólogo do que um conto, está na carta que acompanhou a remessa: "Exorto-vos a gozar, quando puderes, essa vida que é bem pouco, sem temerdes a morte que nada é".
A personagem do brâmane é um dos heróis preferidos das facécias, dos diálogos e dos panfletos de Voltaire. Encontramo-lo até no Dicionário Filosófico. Quanto ao processo de oposição, no caso o do sábio à pobre velha, é igualmente comum em Voltaire. Foi, de resto, graças a esses contrastes que o escritor conseguiu desmoralizar a especulação metafísica.
S.M.*

Encontrei nas minhas viagens um velho brâmane, homem bastante sábio, cheio de espírito e de erudição; de resto, era rico, e por isso mesmo ainda mais sábio; pois como nada lhe faltasse, não tinha necessidade de enganar a ninguém. Seu lar era muito bem governado por três belas mulheres que porfiavam em agradar-lhe; e, quando não se divertia com elas, ocupava-se em filosofar.
Perto da sua casa, que era bonita, bem ornamentada e cercada de encantadores jardins, morava uma velha hindu, carola, imbecil e muito pobre.
- Quem me dera não ter nascido! - disse-me um dia o brâmane. Perguntei-lhe por quê. - Há quarenta anos que estudo - respondeu-me -, e são quarenta anos perdidos: ensino aos outros, e ignoro tudo; esse estado me enche a alma de tal humilhação e desgosto, que me torna a vida insuportável. Nasci, vivo no tempo, e não sei o que é o tempo; acho-me num ponto entre duas eternidades, como dizem os nossos sábios, e não tenho a mínima ideia da eternidade. Sou composto de matéria, penso, e nunca pude saber por que coisa é produzido o pensamento; ignoro se o meu entendimento é em mim uma faculdade, como a de marchar, de digerir, e se penso com a minha cabeça como seguro com as minhas mãos. Não só o princípio do meu pensamento me é desconhecido, mas também o princípio de meus movimentos: não sei por que existo. No entanto, cada dia me fazem perguntas sobre todos esses pontos; é preciso responder; nada tenho que preste para lhes comunicar; falo bastante, e fico confuso e envergonhado de mim mesmo após haver falado. O pior é quando me perguntam se Brama foi produzido por Vishnu, o se ambos são eternos. Deus é testemunha de que nada sei a respeito, o que bem se vê pelas minhas respostas. "Ah ! meu reverendo", imploram-me, "dizei-me como é que o mal inunda toda a terra." Sinto-me nas mesmas dificuldades que aqueles que me fazem tal pergunta: digo-lhes algumas vezes que tudo vai o melhor possível; mas aqueles que ficaram arruinados ou mutilados na guerra não acreditam nisso, nem eu tampouco; retiro-me acabrunhado da sua curiosidade e da minha ignorância. Vou consultar nossos antigos livros, e estes duplicam as minhas trevas. Vou consultar meus companheiros: respondem-me uns que o essencial é gozar a vida e zombar dos homens; outros julgam saber alguma coisa, e perdem-se em divagações; tudo concorre para aumentar o doloroso sentimento que me domina. Sinto-me às vezes à borda do desespero, quando penso que, após todas as minhas pesquisas, não sei nem de onde venho, nem o que sou, nem para onde vou, nem o que me tornarei.
O estado desse homem me causou verdadeira pena: ninguém tinha mais senso e boa fé. Compreendi que, quanto mais luzes havia no seu entendimento e mais sensibilidade no seu coração, mais infeliz era ele.
Vi no mesmo dia a velha sua vizinha: perguntei-lhe se alguma vez se afligira por saber como era a sua alma. Nem chegou a entender a minha pergunta: nunca na sua vida refletira um momento sobre um só dos pontos que atormentavam o brâmane; acreditava de todo o coração nas metamorfoses de Vishnu e, desde que algumas vezes pudesse conseguir água do Ganges para se lavar, julgava-se a mais feliz das mulheres.
Impressionado com a felicidade daquela pobre criatura, voltei a meu filósofo e disse-lhe:
- Não te envergonhas de ser infeliz, quando mora à tua porta um velho autômato que não pensa em nada e vive contente?
- Tens razão - respondeu-me ele; - mil vezes disse comigo que seria feliz se fosse tão tolo quanto a minha vizinha, e no entanto não desejaria tal felicidade.
Essa resposta causou-me maior impressão que tudo o mais; consultei minha consciência e vi que na verdade também não desejaria ser feliz na condição de ser imbecil.
Expus a questão a filósofos, e eles foram da minha opinião: "No entanto", dizia eu, "há uma contradição nessa terrível maneira de pensar." Pois do que se trata, afinal? De ser feliz. Que importa, pois, ter espírito ou ser tolo? Mais ainda: aqueles que estão contentes consigo estão bem certos de estar contentes; mas aqueles que raciocinam não se acham tão certos de bem raciocinar. "É claro", dizia eu, "que se deveria preferir não ter senso comum, uma vez que este contribua, o mínimo que seja, para o nosso mal-estar." Todos foram de minha opinião, e todavia não encontrei ninguém que quisesse aceitar o pacto de ser imbecil para andar contente. Donde concluí que, se muito nos importamos com a ventura, mais ainda nos importamos com a razão.
Mas, refletindo bem, parece uma insensatez preferir a razão à felicidade. Como se explica, pois, tal contradição? Como todas as outras. Aí há muito de que falar.

* Sérgio Milliet

a vacina

sexta pela manhã eu fui tomar a vacina da gripe do porco. não doeu. não deu reação. não me senti mal. nada. até hoje de tarde, domingo. dores de cabeça, dores pelo corpo e a minha mãe me dizendo o tempo todo que eu preciso comer.

essa história de comida já está indo longe demais. minha mãe (que é uma pessoa adorável, muitos de vocês, já a conhecem) está me tratando como se eu fosse um anoréxico. é o tempo todo “tu tem que comer”, “come isso, come aquilo”. é o papel de mãe cuidar do seu rebento, esteja ele com um ou 33 anos.

a briga de hoje foi por que eu não tomei café da manhã, pois dormi até tarde. almocei bem, no fim da tarde, como uns doces e sobremesas deliciosos que ela fez. vim para a cama, mal por causa da vacina do porco. febre, suador, sonhos horríveis (pesadelos, no caso), mal etar pelo corpo, dores musculares de toda a sorte. sinto muito mãe e todo o mundo, eu não to pensando em comer nesse momento. a pergunta que fica é: isso é tão anormal? com 33 anos eu não sou capaz de saber o que, quanto, quando e como comer?

acordei as 3:30 da madrugada, com fome, óbvio. minha cama estava mijada. precisava trocar o lençol de cima. não achei nenhum lençol no quarto. lembrei-me de que tinha visto lençois secando na á de serviço. bom, aproveitei, fui comer, pegar o lençol e fumar um cigarro. noite calma. chuvinha fraca do lado de fora.

comi o que tinha vontade de comer, peguei o lençol, fiz um chá, fumei um cigarro e, quando saio da área de serviço, minha mãe aparece querendo saber o que eu estava fazendo. é claro que ela já sabia o que eu estava fazendo e, às 4:10 da manhã eu preciso ouvir novamente o sermão de que preciso comer mais regularmente e que eu não preciso fumar. blá, blá, blá. histórias de mãe.

mãe e pai incomodam, às vezes, mas a gente não pode esquecer que só existe um de cada e que, por mais que a gente esteja certo, eles sempre estão mais certos do que nós. isso significa que eu tenho que comer direitinho e parar de fumar? sim. ou não. depende de mim, eu tenho 33 anos e sei o que é bom ou ruim pra mim e pra minha saúde.

resumo da questão: eu tomei duas mijadas que não precisava por que me senti mal por causa da fucking vacina da gripe do porco.

sábado, 22 de maio de 2010

mijar de pé

pissingcaminhar é um ato tão mecânico do ser humano que a gente não percebe quantidade de músculos envolvida no processo.

é desnecessário dizer que os meus músculos, da barriga pra baixo, além de não exercerem nenhum tipo de movimento, estão tão atrofiados pelo tempo que já estou sem utilizá-los, que os exercícios que eu venho fazendo para tentar recuperá-los são extenuantes demais e exigem muito das partes do corpo que respondem aos meus estímulos: um pouco de quadril, abdômen e muito das costas, das minhas já combalidas costas.

de uns dias pra cá, caro amigo leitor, as minhas costas vem fazendo um barulho que deixa qualquer um assustado (até a minha fisioterapeuta se apavorou com os claques e cliques que as minhas costas fazem). é estranho demais, visto que no último exame que fiz, tudo estava bem e no lugar. weird.

voltando ao caminhar; então, estou percebendo que cada músculo, cada impulso recebe um comando e faz o movimento. comigo não é assim, pois a lesão da medula deixou os meus nervos e músculos, digamos, esquizofrênicos. tá uma bagunça generalizada e o objetivo das minhas fisioterapias é fazer com que isso tudo se coordene de forma que eu possa me sustentar, em primeiro lugar, e caminhar, num segundo momento. eu estou ansioso, e isso é outra coisa que eu preciso aprender a controlar.

eu tenho uma listinha de coisas que eu quero fazer depois que eu voltar a caminhar decentemente, e vou cumpri-la, não importa a ordem, desde que a primeira coisa seja mijar atrás de uma árvore na rua. porque nós, homens, temos uma vantagem fenomenal sobre as mulheres que é ter o dom de transformarmos, se quisermos, o mundo em um grande mictório. a gente mija de pé atrás de qualquer coisa. eu perdi isso, mas quero reconquistar esta vantagem o quanto antes.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

paolo nutini - jenny don't be hasty



who the fuck is jenny ? is it myself ? who am i here ?

terça-feira, 18 de maio de 2010

the merovingian's french



gente... é tão bom xingar em francês.... todo mundo deveria aprender... lol, ou melhor mdrrrrr

segunda-feira, 17 de maio de 2010

eu que falei sem pensar

que merda é falar as coisas sem pensar...

em algumas vezes a gente não faz nenhuma besteira, mas, via de regra, o ato de não pensar antes de falar alguma coisa a alguém gera desconforto; se não na hora, em algum momento posterior. você vai se arrepender, é certo que vai. hora ou outra a casa cai e você se encontra naquela situação desconfortável de merda que não queria para si e já é tarde demais para voltar atrás.

ainda bem que o mundo dá voltas e que as pessoas esquecem facilmente as coisas. isso faz com que o erro crasso se torne uma vaga memória de um passado distante. mas tem gente que não esquece. eu não esqueço. você, leitor mais astuto, já sabia disso. é óbvio que eu não esqueço. eu fico remoendo tudo aqui dentro da minha cabeça nesse cérebro maldito que não para nunca de funcionar e que me deixa puto em alguns momentos. se eu fosse um computador, com um botão liga/desliga e com comandos simples de ms-dos, tudo seria mais fácil. eu dava um reboot, format c:/q e tava tudo resolvido.

mas não. eu mastigo tudo, engulo, rumino, mastigo de novo e assim eu vou, demoradamente, como a minha evacuação, esquecendo das merdas que fiz ou deixei de fazer. geralmente das que fiz, pois prefiro me arrepender de ter feito algo errado do que imaginar o fato de ter tentado algo e não ter conseguido. aí sim. fico remoendo à morte.

porque estou escrevendo isso agora, nesse momento? bom, estou remoendo uma coisa, amargamente arrependido de ter dito outras, me achando estupidamente idiota por ter feito outras e querendo não ter agido de uma forma ingênua e imbecil em outras.

enfin, c'est la vie - on se fait mal à cause des gens. on se récupère, on se met debout, on redemarre la vie et on continue à se faire chier jour après jour.

domingo, 16 de maio de 2010

aprendendo

ao ter apenas duas mãos para fazer o trabalho de um corpo inteiro, você se dá conta de que precisa ficar forte. é uma coisa que acontece da noite pro dia; de repente você se vê numa situação em que não tem absolutamente nenhum controle sobre mais da metade do seu corpo e precisa direcionar tudo através da mãos e dos braços. é foda. é desanimador e, pior, de tudo, é desanimador (a redundância é proposital). a primeira pergunta é: mas como? você olha os outros fazer o mesmíssimo movimento que você tem que fazer executado com maestria, lá vai você, todo dono da situação e, pimba... ossinho da bunda num canto da cadeira, joelho esfregado na porta do carro, dedos dos pés esmagados contra a parede. pior: você não sente dor alguma. parece que dói ainda mais.

o que então deve-se fazer? fisioterapia, muita fisioterapia. se possível, duas vezes ao dia, quanto mais, melhor. levar um corpo já estressado de um acidente horrível, de uma intervenção cirúrgica violenta ao extremo não é uma das sensações mais agradáveis. o seu corpo pede água, pede descanso, mas a sua cabeça está lá, a mil, querendo mais e mais, querendo melhorar logo. aí você chega em casa, podre da fisioterapia, que foi, mais uma vez extenuante do ponto de vista físico e um fracasso do ponto de vista da melhora, pois nada muda de um dia para o outro. mas aos poucos vai mudando.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

uma flecha que dispara sem rumo

tudo sempre passa muito rápido, rápido como uma flecha, rápido como um cometa... quando a gente percebe, já foi. eu vejo todos ao meu redor falando que cada ano passa mais rápido, que cada dia demora menos pra acabar, que tudo virou rotina, que sempre fazemos as mesmas coisas. mas que diabos! por que a gente faz sempre as mesmas coisas, na mesma ordem, sempre da mesma maneira? porque é cômodo, porque é mais fácil... nós temos tantos problemas pra resolver durante o dia que nem nos damos conta de coisas banais acontecendo ao nosso redor, e são coisas banais que fazem parte da vida, que importam, que a gente deveria se dar conta.

num piscar de olhos eu perdi muito, numa noite que não era pra ter fim, mas que deveria ter acabado muito antes. nós vivemos no limite, sem medir as consequencias dos nossos atos, sem se preocupar com as atitudes que tomamos ou deixamos de tomar. eu deveria ter ido pra casa. mas um fato cármico/cósmico, uma pura fatalidade, a vontade de deus – whatever you name it - me colocou onde eu estou hoje.

muitas vidas foram mudadas com uma atitude minha, o curso da vida de muitas pessoas simplesmente teve que ser alterado bruscamente por causa de uma atitude egoísta minha. eu desencadeei uma série de eventos que mexeu no balanço do sistema solar. viagem? talvez?

eu costumava não acreditar muito em coisas que não podiam ser cientificamente comprovadas, costumava acreditar naquilo que estava ao alcance da minha mão. ainda tenho esse cacoete de duvidar de coisas que não podem ser explicadas. esse meu ceticismo foi se formando, não sei de que maneira, mas foi se petrificando dentro de mim e foi tomando conta do meu ser. divagando, o que é o amor? como começa, por que começa? de onde vem? o amor não é cientifico, mas eu sei que eu tive três amores na minha vida até agora, cada um com a sua intensidade, mas foram três, consigo enumerá-los, consigo lembrar como foi, como começou e como terminou. como terminaram comigo. t., j., t. de novo e c. começou aos 15 e terminou na noite em que eu festejava os 31. que bela maneira de se festejar um aniversário. terminando o namoro que mais durou, o que foi mais forte, o que mais doeu, o que mais me fez feliz, o que mais me fez aprender e, acho, o que eu mais ensinei. ainda, depois do acidente, teve a cinderela, que eu considero como o meu quarto amor, mas sobre esse já falei bastante, não é, caro leitor?

passei uma tarde inteira pensando de que forma as pessoas enxergam estas mudanças que lhes foram impostas, como elas encaram isso, como é que elas reagem, por que se abstem, porque se prontificam. me engano ou é uma relação de troca? é como o amor verdadeiro, que só existe no egoísmo? acho que ninguém gostaria de estar no meu lugar hoje, precisando de alguém para fazer muitas coisas banais que eu fazia sem prestar atenção; minha mãe, quando eu era criança, sempre me dizia para tomar água devagar, quando eu chegava em casa esbaforido de uma tarde de futebol com os amiguinhos da rua e enfiava a cabeça embaixo de uma torneira e entupia o estômago de água até não poder mais; segundo ela, eu tinha que sentir o gosto da água. a minha resposta era sempre a mesma: “mãe, água nào tem gosto, é inodora, incolor e insípida; não tem gosto”. hoje eu sei que água tem gosto, sim. tem gosto de água.

tudo pra mim, hoje, é difícil ao quadrado; locomoção, principalmente, necessidades físicas, dormir, sentar, tudo, enfim. mas tudo que eu faço hoje, eu presto atenção, os mínimos movimentos, as posições para dormir, o jeito de sentar, o equilíbrio do corpo. eu to passando por uma fase em que tudo está mudando e eu to tendo a capacidade de perceber estas mudanças. i'm aware now.

eu estou cada vez mais consciente do que se passa ao meu redor, e consigo ter atitudes que condizem com o que está acontecendo. eu estou amadurecendo aos 33 anos, achando que tinha amadurecido aos 23. questões do tipo: o que vai ser da minha vida agora? como eu vou me virar? vou ter todas as minhas habilidades físicas restabelecidas? pra onde vou? dentre milhares de outras do gênero, povoam a minha cabeça, mas não me assustam mais. novamente eu não sei o que quero da minha vida, aos 33 anos (já sei mais ou menos), quando eu já deveria estar casado, bem estabelecido, com filhos, como manda o figurino e como eu acho que meu pai gostaria... mas esse não sou eu. eu descobri que eu sou um ser mutável que não gosta muito de obedecer os padrões que a sociedade me impõe, que não gosta de ficar sossegado num canto do mundo vendo a vida passar como uma flecha, ou como um cometa, se preferirem. eu quero mais. não sei como, nem com quem, nem quando e muito menos porque... mas eu quero mais.

aquele segundo em que eu perdi o controle do carro que saiu da estrada e que bateu em uma árvore e capotou e que me deixou assim momentameamente, e que salvou duas vidas além da minha, passou, como uma flecha. e não volta mais, infelizmente, ou felizmente. mas não volta MESMO. e eu não me lamento por isso, pelo contrário agradeço por não ter morrido, e tava bem fácil de morrer naquela hora, e por não ter matado duas pessoas maravilhosas que hoje, coincidência ou não do destino, fazem parte da minha vida de uma forma indelével. agradeço por ver que tenho uma família, que apesar de todos os defeitos, me ama, me quer bem e faz de tudo pra eu me sentir bem do jeito como estou. it ain't easy babe... it ain't easy, mas algo mudou, e mudou pra melhor. era preciso. será que estava escrito? você, leitor, acredita nisso? eu não acreditava, e ainda não sei se acredito, mas que precisava, precisava. era o único jeito de me parar.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

vocês não entendem - parte 2 ou eu não sou a luciana

eu falei que iria escrever um pouco mais sobre o meu dia a dia e não vou decepcioná-los. no primeiro texto eu falei sobre xixi e cocô. não vou falar sobre ereção. esse blog é lido por menores de idade e isso seria pornográfico. eu até posso ser desbocado, mas não sou pornográfico.

como muitos de vocês viram, eu estou com aparelhos novos, sendo que um deles me permite ficar de pé quase sem ajuda. é uma sensação estranha, ficar de pé, dez meses depois. eu não lembrava que eu era tão alto - e eu sempre me achava baixinho (talvez por que sempre me interessei por mulheres mais altas do que eu (com uma exceção muito importante e especial)). eu não posso usar aquele treco sozinho. preciso de ajuda para colocá-lo, para subir e para me manter de pé, mas mal parodiando neil armstrong: é um pequeno passo para mim, mas um grande passo para a a minha recuperação.

aí, agora, me pego pensando, como é possível que de um dia para o outro eu possa ter uma atitude totalmente diferente em relação à vida, a minha recuperação, às pessoas ao meu redor, além de acreditar no inimaginável e sentir na carne - e nos ossos - essa diferença? realmente existem mais segredos e coisas inexplicáveis entre o ceu e a terra do que a gente imagina. que bom!

porque eu coloquei no título que eu não sou a luciana? um motivo muito simples: a tv monta todo um glamour em torno da personagem, sem contar que ela tem tudo o que é de mais moderno e avançado, profissionais o tempo inteiro ao redor dela, e outras coisas que não cabem colocar aqui. isso é televisão! é ridículo. é tudo fake. no máximo a minha história se parece com a de algumas das pessoas que se prestam a dar aqueles depoimentos cheios de emoção no final de cada capítulo da novela. tudo o que se fala ali (dos poucos capítulos que vi) é um quadro bonito de uma situação de merda que aflige muita gente, inclusive eu.

não é bom ser para ou tetraplégico. não é bom acordar de manhã e ver que tu não consegues caminhar. não é nada bom tomar consciência de que isso pode ser permanente. não é bom sentir dor diariamente, desde o momento em que tu acordas até o momento em que adormeces (com ajuda de remédios fortíssimos). e, sobretudo, não é bom olhar para o lado e ver que tu precisas de um equipamento estranho chamado cadeira de rodas para se locomover. é uma merda. não venham me dizer que é bom ou que é aceitável. não. não é aceitável, isso não faz parte da condição natural humana. pessoas normais caminham, fazem xixi, cocô e sexo normalmente e não com a ajuda de remédios ou sem consciência. quem diz que isso é bom é hipócrita. e quem acredita nisso é tão ingênuo quanto o cândido de voltaire, que vê o mundo desmoronar ao ser redor, mas sempre acha que tudo está o melhor possível.

ter consciência disso não me faz perder a vontade de continuar lutando e trabalhando para melhorar, não vai me fazer esmorecer. eu quero recuperar tudo de volta. e vou fazer de tudo para ter tudo de volta. em alguns dias eu posso me permitir ficar mal, depressivo, chato, querendo morrer. mas faz parte. c'est la vie, e, reiterando, eu não sou a luciana.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

torcendo por você- carlos drummond de andrade



então, nos resta torcer...

vocês não entendem

o depressivo boy que se apossou do meu twitter há algumas horas atrás resolveu deixar um texto para o blog, e eu vou prublicá-lo, sem cortes e restrições. então, se você não tem um estômago forte, não continue e pule essa parte.

coluna (2)de ladinhosim, eu passei o dia inteiro pensando em morrer. já faz alguns dias que eu venho pensando nisso, cada vez mais frequentemente. talvez seja pelo ócio em que me encontre, mas eu prefiro creditar todo esse sentimento na dor que eu venho sentindo nos últimos dias. qualquer movimento que eu faça, qualquer posição em que eu me encontre me faz doer as costas. por demais. e não era assim. minhas costas fazem barulhos estranhos o tempo todo, se eu me viro para a direita, para a esquerda, se eu me espreguiço, se eu me encolho. se eu pender para um lado ou para o outro, também dói e faz barulhos cada vez mais preocupantes e altos. é como se os meus ossos das costas estivessem se chocando uns contra os outros sem nenhuma proteção natural. você, leitor, mais inteligente já deve estar se perguntando: e os exames, o que dizem? bom, fiz uma tomografia computadorizada há um mês e estava tudo certo, tudo no lugar inclusive meu doc disse que, se eu quisesse, eu já poderia tirar o punhado de parafusos e hastes das minhas costas (estes aí do lado), pois os meus ossos estão consolidados e nesse sentido não há mais nada a se fazer. a partir de agora, é tudo neurológico.

hoje acordei tarde, dia das mães e eu acordei tarde. fui almoçar com a única dos meus avós que ainda está viva (mãe da minha mãe), a vó. várias pessoas estavam lá, comi muito, foi superdivertido. eu sempre fico ao lado do fogão à lenha – minha vó já sabe e sempre deixa um cantinho pronto pra mim. cheguei em cima da hora, pois como já foi dito, acordei tarde. inconscientemente, eu já sabia que hoje não era um bom dia. justo no dia das mães! tentei disfarçar, acho que fui bem sucedido por um tempo, mas logo minha mãe percebeu que algo não estava bem comigo. eu adoro e odeio isso ao mesmo tempo. ela tem um dom de me ler por dentro, só de me olhar (não sei se todas as mães são assim. a minha me “lê” a quilômetros de distância). no fim do dia, meu pai foi me buscar e eu mal pude me despedir dela. era, pra mim, o fato explícito de que algo estava errado entre nós.

quando eu disse, antes, que vocês não entendem, eu quis dizer que ninguém entende o que eu sinto. as minhas dores, os meus pensamentos, as minhas angústias, as minhas alegrias… ninguém sabe como é. através dos meus relatos vocês podem ter uma noção de como é, mas mesmo assim, ninguém, nunca, vai saber como é de verdade. mas eu garanto pra vocês. não é bom. as dores que eu sinto são horríveis e são constantes, com mais ou menos intensidade dependendo da posção em que eu me encontro. geralmente deitado, em posição fetal, é como eu me sinto melhor, e mesmo assim, respirar dói.

quando eu disse antes, que vocês não entendem, que eu estou cansado de viver assim, é por que a grande maioria de vocês, meus amigos que leem o blog, não sabem como é o meu dia a dia. isso, quem sabe é a minha família mais próxima e alguns amigos muito íntimos, com os quais eu tenho a liberdade de falar sobre tudo, ou quase tudo. pois bem, eu vou tentar, mais ou menos, explicar como é um dia na minha vida.

alguns sabem que eu durmo tarde, sempre depois da meia-noite – dificilmente durmo antes disso. devido à falta de sensibilidade que eu tenho das costelas para baixo, eu precisaria mudar de posição de decúbito a cada 2h. com o temppo eu descobri que eu não preciso fazer isso, se tomar alguns cuidados. geralmente eu os tomo. travesseiros auxiliares, posições diferentes, etc. tudo ajuda. mas além disso, eu preciso também acordar a cada 2h para ver se eu fiz xixi (sim, eu não sinto quando faço xixi. para maiores explicações sobre o assunto, clique aqui.) a quantidade de xixi, obviamente, depende da ingestão de líquidos, ou seja, quanto mais eu bebo, mais eu mijo. matemática pura e simples. com um fator agravante, se eu fizer pouco xixi, posso ter infecção urinária (já tive duas, uma quando ainda estava no hospital, me recuperando do acidente; outra que me levou de volta ao hospital, já em santa maria). é tudo questão de controle, há dez meses e por este motivo as camas onde eu durmo devem ter dois lençóis intercalados por um plástico, caso ocorra uma catástrofe, no caso, eu não me acordar a cada 2h e verificar a minha urina. sometimes, it’s just too late. bom, aí troca-se o lençol de cima, e tudo bem, tudo volta ao normal. às vezes esse processo dura 10min, às vezes 30min. calcule, prezado leitor, como é o meu (mau) humor pela manhã depois de uma noite de sono extremamente agradável controlando a minha urina e as posições de dormir a cada 2h, com eventuais trocas de lençóis. pois é.

tem mais. a cada semana, mais ou menos, tem o número dois. heh… achavam que era só isso?? o número dois é pior. devido à falta de marcha (isso quer dizer que eu não caminho), meu intestino foi ficando preguiçoso, digamos. e como a minha lesão foi na coluna torácica, tudo que é controlado dali pra baixo foi afetado, isso inclui um músculo extremamente importante de um corpo humano, e o arguto leitor já sabe que ele se chama esfíncter, o anal. deus na sua eterna bondade, ao inventar esse trauma, pelo menos foi generoso ao deixar o esfíncter permanentemente fechado. bom, aí, meus intestinos vão enchendo à medida que eu como, e eu vou comendo, comendo e o intestino vai processando tudo e enchendo, enchendo. até que ele enche completamente. aí é o dia d. tamanha força e pressão internas fazem o danado do esfíncter abrir - sem avisar -, e ele só fecha quando sai tudinho. pronto, estou limpo. esse é o meu processo de evcuação, que normalmente demora de uma a duas horas e já foi motivo de vários cancelamentos de encontros com amigos. eu não sei quando vem. e quando vem, não há como impedir. uma evolução até agora dessa parte: eu sinto dores de barriga, cólicas monstruosas. e nada disso é indício certo de que eu vou, enfim… defecar. esse é um trabalho que eu não consigo fazer sozinho e que eu jamais pediria ao meu amigo mais amigo do mundo para fazer. questione-se se você pediria? não né. por isso dependo tanto do meu pai e da minha mãe, são eles que literalmente metem a mão na merda pra que eu fique limpinho e cheiroso e possa sair com vocês e me divertir, na medida do possível. e eu confesso a vocês, eles passam por maus bocados. é o tipo de coisa que eu não sei nem por onde começar a agradecer. acho que são coisas que pai e mãe fazem pela gente, não importando a idade que temos. eu ainda pretendo ter filhos, e tenho certeza de que não hesitarei um segundo em limpar a bunda deles, tenham eles a idade que tiverem.

tem mais, mas eu deixo para um segundo capítulo, ok?

a lição que eu tirei do dia de hoje, após falar com várias pessoas sobre a minha vontade de morrer foi que “a vida me espera”; se eu olhar para o lado, tem gente que vive em condições muito piores do que a minha (não que isso me conforte, muito pelo contrário, mas me faz pensar que se essa pessoa que está pior do que eu enfrenta a vida, eu também posso enfrentá-la}; sem querer virei motivo de exemplo para várias pessoas que me escrevem sempre, uma dessas pessoas salvou a minha noite hoje ao dividir um texto comigo (obrigado, meu amigo); desde o início dessa minha aventura eu criei uma máxima: “eu vou buscar a solução disso, demore o tempo que demorar, custe o que custar e doa o que tiver que doer”.

então, sua dor filha da puta, sai fora desse corpo que ele ainda tem muita coisa a fazer nesse mundo. boa semana.

domingo, 9 de maio de 2010

quando ficar na cama é uma boa

vamos a mais um assunto que, talvez, esteja se repetindo, mas enfim. você, leitor, já passou por aqueles dias em que a vontade de sair da cama é menor do que zero? não é preguiça, não é falta do que fazer... o que é então? o mal de viver, a melancolia?

hoje meu dia foi assim. não saí da cama. fiquei o dia inteiro deitado, esperando a morte chegar, bravo com o mundo, de cara amarrada, conversando pouco com as visitas e com meu pai, que a todo o momento queria me fazer sair da cama para fazer algo: "te mexe um pouco", dizia ele. e eu nada, só reclamando que estava com dor e que não iria sair daqui, da camo, no caso, por nada no mundo.

finalmente, lá pelas 20h, resolvi levantar para jantar, a juju estava aqui e é sempre divertido comer com ela. acho que ela pegou um hábito de uma ex minha que não podia senta-se à mesa sem alguma coisa para beber: "maria, acho que tu esqueceu alguma coisa", disse a juju, repetidas vezes, até que chegou a tão esperada coca-cola. =)

vi um pedaço da novela (eu a vejo quando sei que tem paria na jogada, aí mato um pouco a saudade daquele lugar mágico), mas chegou uma hora que eu não conseguia mais ficsar sentado, precisava me deitar de qualquer jeito; acho que a mudança de tempo colabora um monte com a dor. essa dor filha da puta que eu sinto everyday, às vezes, mais, às vezes, menos.

uma vez na cama, fiquei pensando várias coisas, inclusive na cinderela (sei que não posso mais falar dela aqui, mas peço uma exceção hoje). e foi só pensar nela que recebo uma mensagem no celular. quando tocou o bipe do meu telefone, avisando que uma memsagem chegara, eu já sabia que era dela. e senti aquele prazer inundar o meu corpo - "uma mensagem da cinderela", pensei. bom, trocamos algumas palavras e ficou por aí.

em verdade vos digo, sem a cinderela por perto, não tenho muita vontade de escrever. ela é a minha musa inspiradora, que me faz querer escrever, pensar e criar. no fim das contas, com esse distanciamento, tenho duas opções: escrever, mesmo assim, textos que não tem o mesmo conteúdo recheado de carinho e amor, ou parar de escrever de uma vez por todas.

eu não quero parar de escrever, mas apesar do tempo livre, poucas coisas vem à cabeça, poucas coisas úteis e admissíveis, afinal, tem coisas que eu nunca vou escrever, nem sobre a cinderela, nem sobre ninguém. esse blog não é uma máquina de lavar roupa suja, muito menos roupa velha.

como encerra sempre seus textos, copio de um amigo: "saravá!"

quinta-feira, 6 de maio de 2010

as duplas horas

você, leitor que conhece jaguari, já sabe: as horas aqui duram duas horas !

nasci no dia cinco de abril de 1977, no hospital de caridade de jaguari, às 11h10 da manhã, com fome, segundo a minha mãe. tinha 3,100kg e, sem ninguém saber, eu tinha um problema, um defeito de nascença chamado estenose congênita do piloro, ou, segundo a minha vovó ida: "o guri nasceu com as tripas entupidas". aos 37 dias de vida, magro, e vomitando tudo o que me davam para comer e beber, quase já sem chances de continuar vivo, fui submetido a um raio-x com contraste, no qual o dr. acacio descobriu meu problema congênito. aos 38 dias de vida, dia 13 de maio de 1977, pesando 2,800kg, fui operado, com sucesso. é assim que começa a minha história.

minha infância foi tranquila, em cidade pequena, você sabe como é, estimado leitor, não há muitos perigos. então eu era um menino abusado. eu sempre testava os meus limites, os limites dos outros, das coisas, do tempo... ficamos em jaguari até os meus quase 16 anos. quase tudo na minha vida que eu fiz por primeiro, o fiz em jaguari.

muitos jaguarienses saíram da cidade, em busca de novas oportunidades, de uma vida nova, ou simplesmente por que não aguentavam mais viver duas horas a cada hora do relógio. as missas em jaguari são intermináveis. chegar de um lugar a outro na cidade, apesar de levar cinco minutos, demora dez! e o que dizer das noites... no inverno, as noites em jaguari tem cerca de 20 horas. você já pensou, caro leitor, 20 horas sob o breu da noite! no verão, as noites quentes, úmidas e abafadas tem 14 horas.

desenvolvemos uma teoria na qual jaguari fica num ponto geográfico único no planeta, alinhado de forma extremamente singular com a via láctea. isso faz com que o tempo em jaguari seja dobrado, e faz também com que tudo, toda a matéria universal, tenha passado por jaguari em um dado momento do tempo na nossa existência. mesmo sem saber, você, sim, você mesmo!, leitor, já deve ter passado por jaguari numa dobra espaço-tempo, e nem sabe. você não sabe onde fica jaguari, mas já ouviu falar, ou ouviu alguém falando. você pode não conhecer um jaguariense, mas conhece alguém que conhece, com certeza. isso não lhe parece... estranho, arguto leitor? enfim...

eu sempre achei que eu seria o jaguariense mais famoso. que eu seria um presidente da república, um piloto da nasa ou um físico ou compositor brilhante. mas aos poucos as minhas aspirações foram se apagando. presidente da república não pode ir mal no colégio, diziam (que bizarro né, termos, hoje, um presidente semianalfabeto); piloto da nasa, isso é coisa dos americanos, onde já se viu (mas que gozado, um brasileiro voou numa nave espacial da nasa há pouco tempo, não); um físico eu não seria nem querendo, soube no momento em que recebi a minha primeira prova na escola (4,2); um compositor, um músico, vi que não dava pois na minha primeira tentativa de aprender os acordes de uma música, desisti, decepcionado com a minha inaptidão para com o instrumento. mas eu sempre me lembrava que na minha formatura do prézinho eu dissera: "quando eu crescer eu quero ser professor!", fiquei muito tempo pensando, que ridículo, professor.

e assim, aos poucos, eu fui deixando de lado os meus sonhos e fui crescendo, vivendo e indo com a onda da vida. passei por vários lugares, conheci várias pessoas, vivi muitas coisas que não teria vivido, se tivesse ficado em jaguari.

eu nunca fui de brigar. não sou nem nunca fui aquele tipo de menino encrenqueiro e brigão. eu era destruidor. gostava de quebrar coisas, testas limites, como já foi dito. e desde cedo eu fui inclinado a amar as mulheres. meu primeiro amor platônico foi a dani, uns sete anos mais velha do que eu. a conheci na dia do aniversário de 15 anos da minha prima, que era colega dela. a cada dia eu amava uma mulher diferente: a pati, a ju, a caren, a dani, a mel... eu era um sonhador. sonhava com aquelas gurias todas, a cada dia apaixonado por uma delas. eu mudava de cidade, mas os amores continuavam, a carol, outra dani, a ju, a fer... sempre mudando, mas sempre me apaixonando; a grasi, a clau, a gi, a lu, a be... e elém dessas que eu citei, houve quatro grandes amores na minha vida, e isso já foi dito também, eu acho. se não foi, eu não vou falar por que não interessa agora. não que não sejam importantes, foram os que eu consumei, mais ou menos, vivi, fui parte e fiz a diferença. outra hora eu conto sobre eles, se elas me deixarem... =)

mas assim como as horas em jaguari duram duas horas, o meu amor por essas gurias/mulheres era dobrado. nunca foi um gostar ou um querer beijar ou transar, era amor mesmo. eu me apaixonava de ficar olhando com a boca aberta, babando, contemplando... os cabelos, os contornos do corpo, o jeito de caminhar, a postura, o jeito de falar, o rosto, tudo. eu era muito observador. acredite, caro leitor, leitora, eu me apaixono assim, sempre. é intenso, é forte, é único. isso tem um lado bom, e tem um lado ruim, como tudo na vida. mas aos poucos eu fui aprendendo a lidar com o sofrimento advindo dos amores não correspondidos ou dos fins dos amores correspondidos.

entretanto, assim como as horas em jaguari duram duas horas, o meu amor por estas criaturas maravilhosas demora para ir embora. demora o dobro. mas passa, vira amizade, carinho e posso dizer que nenhuma delas me odeia. tenho certeza de que todas me querem bem e quando pensam em mim, pensam com carinho.

porque eu resolvi escrever tudo isso? importa? nesse momento, eu estou em jaguari, escrevi este texto em uma hora, mas parece que foram duas. nessas duas horas eu ri, chorei, me emocionei, lembrei de coisas engraçadas e de outras nem tanto, mas foram duas horas agradáveis. é o que importa.

terça-feira, 4 de maio de 2010

a folha em branco

o desafio de qualquer artista... aquele grande pedaço de papel totalmente branco, esperando, ávido, por uma pincelada. uma batida de uma tecla, um pixel... não me considero um artista, mas estou há vários minutos olhando para este espaço em branco, tentando imaginar o que escrever. se abstraio a realidade do dia de hoje ou se a incluo (uma daquelas milhares de decisões que a gente toma no dia-a-dia); se carrego meu texto com o sentimento que me preenche ou não; se escrevo, afinal.

uma boa parte dos leitores vinham aqui para ler as histórias da cinderela, para saber qual seria o próximo passo ou qual foi o último encontro, ou mesmo para tentar descobri-la. a história da cinderela acabou e ficou o sonhador em busca do amor verdadeiro lutando contra a dura realidade que lhe cerca.

concedo-me o direito de não escrever hoje, agora. sinto muito.

paula toller - meu amor se mudou pra lua



isso que eu chamo de timing... pra bom entendedor...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

as coisas não são como a gente quer

os gurus falam sempre uma frase que me deixava - e ainda me deixa - crente de que eu poderia ter tudo o que eu quisesse: "querer é poder". repita três vezes, mentalize e... puft: seu desejo realizado! serve para qualquer situação - dívida no jogo, amor mal-resolvido, atrair sorte, espantar mau-olhado e toda sorte de problemas que você, arguto leitor, quer resolver. bom, eu cresci acreditando nisso. tenho 33 anos e ainda acredito nisso.

aí acontece o seguinte: nem sempre a gente consegue aquilo que quer. faz parte do mundo, do ser humano. nem a verusca salt da fantástica fábrica de chocolates do willy wonka teve tudo o que ela queria; acho que nem a rainha beatrix, da holanda tem tudo o que ela quer... bem, você já deve ter entendido, caro leitor, n'est-ce pas ?

resultado da criança educada para ter tudo e percebe que nem sempre é assim que funciona: aos quatro anos ela bate pé, chora de mentira e vai para o quarto; aos sete ela xinga o pai a mãe, toda a geração anterior da família, bate o pé, chora de mentira e vai para o quarto; aos doze ela discute com o pai e com a mãe, os xinga, xinga os antepassados, bate o pé, chora um pouco menos (principalmente se for menino) e vai para o quarto; daí em diante, o já adolescente, briga e sai de casa pra espairecer - se ele for meio marginal (ou metido a marginal), ele vai fumar maconha com os amigos, se rebela contra a sociedade, vira punk/anarquista ou bicho-grilo/veggie ou um milhão de outras coisas...

voltando ao assunto e, insistindo no erro de dizer que eu já tenho 33 anos, eu ainda fico bicudo quando algo acontece diferentemente daquilo que eu quero. simples assim. e odeio que venham me dizer para ter paciência; odeio que me digam "que é assim mesmo"; odeio que me digam para me conformar, pois, sozinho, eu não vou mudar o mundo. odeio gente conformada. odeio essa filosofia barata cristã de que tudo acontece pelo melhor ou por que deus quis assim. eu acordo todas as manhãs fazendo escolhas, e vou para a cama à noite escolhendo. sou eu que tomo as decisões que me afetam e que afetam aos outros, diariamente, milhares de vezes por dia. o que eu quero dizer com isso, é que eu não acredito no acaso e que as coisas não acontecer por acontecer. cada atitude minha, ou sua, prezado leitor, desencadeia uma série de ações que interferem no seu mundo, e até mesmo no meu, em alguns casos.

isso não quer dizer que eu não acredite no destino. em um destino que nos foi, ou nos é traçado a cada instante, em virtude daquela escolha feita, ou não feita, durante o café da manhã.

o mundo está aí, enorme e cheio de opções, basta escolher. nós temos opções, basta olhar ao redor.

este texto parece um tanto agnóstico, mas se você, leitor astuto que é, perceber bem, vai ver que ele é cheio de concepções religiosas, mais ou menos ortodoxas que te fazem pensar. bom, a mim, me fazem pensar, e muito. é o que me interessa. se faz você pensar, melhor, somos eu e mais um ou dois don quixotes a lutar contra os moinhos de vento do nosso caminho.

welcome to the fight club !

noisettes - never forget you



i can put some music, after all, this is my blog =)

domingo, 2 de maio de 2010

porque sonhar faz bem

eu sou um sonhador, por natureza. talvez isso venha da minha mãe. do meu pai, provavelmente não é, pois ele é uma pessoa fincada no chão com raízes fortes - e isso o desqualifica um pouco do papel de sonhador. mas ele tem outras qualidades que não vem ao caso agora.

o que é um sonhador, uma pessoa sonhadora, prezado leitor?

seria aquele lunático, que vive procurando respostas às perguntas mais básicas e inexplicáveis de qualquer ser humano e que se descola totalmente da realidade? talvez essa pessoa seja uma sonhadora. provavelmente ela é o extremo da definição para ser humano sonhador.

seria, talvez, aquele indivíduo que quer ser um ator de televisão, ou uma modelo, um jogador de futebol, mas que moram em lugares tão distantes dos grandes centros que dificilmente realizarão seus sonhos? mesmo assim, sonham com o grande dia em que encontrarão um olheiro ou alguém em busca de um rosto exótico. mesmo se isso não acontecer, não podemos dizer que essas pessoas não são sonhadoras, não senhor, caro leitor.

poderia ser, aquela pessoa que busca viver um sonho que viu em uma novela, ou em um livro, um filme. afinal, geralmente, novelas, livros e filmes tem finais felizes, e como seres humanos que somos (excluindo aqui os sádicos), todos buscamos a felicidade; nem que seja um toque efêmero de felicidade alheia do final de um romance, ou o casamento do mocinho com a mocinha no último capítulo da novela (como são educativas essas novelas, não?).

eu ainda tenho uma classe de sonhadores, na qual me enquadro, que é uma mistura das três anteriores - sempre quis saber de onde viemos e para onde vamos e vivo me perguntando e tentando achar a resposta para isso; uma vez quis ser jogador de futebol, mas vi que não tinha o talento suficiente para jogar no grêmio, mas mesmo assim, sempre me aventurei pela lateral-direita dos "times" por onde passei, com mais ou menos sucesso; e tal qual um conto de fadas (um filme, uma novela, um livro), eu busco o amor verdadeiro incessantemente, aquele amor puro, quase lúdico, simples, sem máscaras e barreiras e pedras que se colocam no meio do caminho o tempo todo.

eu até acho que estou me tornando repetitivo nos meus textos do blog, mas se escrevo sobre um assunto mais de uma vez é por que o considero interessante para ser rediscutido. é também uma maneira que eu tenho de pensar mais sobre o assunto e colocar pra fora meus sentimentos que me sufocam. uma vez eu achei que tinha esse amor, e ele durou bastante tempo até, mas não era pra ser. pelo menos não naquele momento.

enfim, amigo leitor, buscar o amor verdadeiro é um sonho que faz bem. mas ele te faz bem até o ponto em que tu consegues ter alguma coisa de volta, afinal, a gente abraça para ser abraçado, beija para ser beijado e, obviamente, ama para ser amado, não é?

amélie poulain

assistir ao filme le fabuleux destin d'amélie poulain ainda me faz acreditar que o amor puro e simples existe. não sei onde ele anda, mas a cada vez que eu vejo esse filme eu me sinto mais perto de compreender o que é o amor...

ainda vou encontrá-lo.

sábado, 1 de maio de 2010

louise attaque - à l'envers

louise attaque é uma banda francesa que eu curto muito. essa música é especialmente bonita.

fora do contexto

em determinados momentos do meu dia eu me pego pensando se eu estou ficando louco ou não... me questiono a respeito disso quase que diariamente. acho que somente pelo fato de me questionar, já tenho a minha resposta. claro que não. mas tenho algumas atitudes e pensamentos que me levam a crer que algo não está bem. que alguma coisa está fora do contexto ou está errada. é estranho.

ao mesmo tempo em que o meu accident me fez repensar várias coisas da minha vida, devido às mudanças que foram sendo impostas a mim, eu fui virando um fantasma. essa é a impressão que tenho, e não lembro de tê-la compartilhado com vocês, prezados leitores. mas porque um fantasma? vou tentar explicar: eu tive que mudar de cidade depois da minha brincadeira automobilística (que, por sinal, está para completar um ano), mas a grande maioria dos meus amigos estão em caxias do sul. eu participo das conversas das pessoas que estão geograficamente localizadas em caxias do sul, mas eu não estou lá.

hoje, moro em santa maria, e não conheço um só santamariense! c'est incroyable! as pessoas daqui que eu conheço são todas de outras cidades. aqui eu não saio à noite (ainda não, pelo menos), ainda não tenho atividades diárias que ocupem o meu tempo e a minha mente, que por sua vez viaja, longe, às vezes. só a fisioterapia é pouco.

mas as coisas vão mudar. hão de mudar. eu vou mudar e vou mudá-las. elas tem de agir a meu favor e não contra mim. mas como é difícil. credo.

a distância e o tempo

cara, como a distância e o tempo são coisas relativas...

esta manhã acordei com uma nesga de sol diretamente no meu olho, às 8H52 da manhã. leventei-me, pensei que estava acordado, pensei na vida, me virei de lado, mantive a janela aberta e voltei a dormir. mas com uma sensação de vazio por dentro. não escrevi nada, não falei com ninguém. simplesmente voltei a dormir.

duas horas depois vem minha mãe no quarto, me oferecendo um café da manhã, acordei, meio de susto, aceitando a oferta, é claro. ritual de sempre, abrir computador, três janelas do google chrome: gmail, twitter e facebook, nesta ordem. chego na janela do facebook e vejo que uma amiga minha, da sardegna (aquela ilha grande ao lado esquerdo da itália no mapa) havia postado um video do caetano veloso pra mim; o video era da música "sozinho". ouvi a música, prestei atenção à letra e pensei: caralho, ela está a mais de dez mil quilômetros de distância e me manda esse vídeio, justo hoje, justo essa manhã... e eu não acredito em coincidências.

chiara foi uma amiga que fiz na época em que morei em frança, em 2002. tivemos um casinho rápido, mas ela me marcou. e eu a marquei também. ela me fez lembrar que dez dias antes da minha partida de volta ao brasil eu deixei um bilhete por baixo da porta da casa dela dizendo: "chiara, amore mio, il y a encore 10 jours pour que tu viennes avec moi au brésil!".

e hoje de manhã, eu, me sentindo sozinho no mundo, receboo essa canção de uma pessoa que está tão longe que não levaria menos de um dia para eu ir até lá se eu quisesse ir agora. enfim, conversamos um pouco por msn, contamos histórias antigas, visões de futuro; chiara quer vir ao brasil. logo. and i can't wait to see her.

depois da nossa conversa o azul do céu ficou mais azul e o brilho do sol ficou mais intenso.

chiara, mia bella chiara: dopo la nostra conversazione il blu del cielo è stato più blu e la luminosità del sole è stata più intensa.