segunda-feira, 10 de maio de 2010

vocês não entendem

o depressivo boy que se apossou do meu twitter há algumas horas atrás resolveu deixar um texto para o blog, e eu vou prublicá-lo, sem cortes e restrições. então, se você não tem um estômago forte, não continue e pule essa parte.

coluna (2)de ladinhosim, eu passei o dia inteiro pensando em morrer. já faz alguns dias que eu venho pensando nisso, cada vez mais frequentemente. talvez seja pelo ócio em que me encontre, mas eu prefiro creditar todo esse sentimento na dor que eu venho sentindo nos últimos dias. qualquer movimento que eu faça, qualquer posição em que eu me encontre me faz doer as costas. por demais. e não era assim. minhas costas fazem barulhos estranhos o tempo todo, se eu me viro para a direita, para a esquerda, se eu me espreguiço, se eu me encolho. se eu pender para um lado ou para o outro, também dói e faz barulhos cada vez mais preocupantes e altos. é como se os meus ossos das costas estivessem se chocando uns contra os outros sem nenhuma proteção natural. você, leitor, mais inteligente já deve estar se perguntando: e os exames, o que dizem? bom, fiz uma tomografia computadorizada há um mês e estava tudo certo, tudo no lugar inclusive meu doc disse que, se eu quisesse, eu já poderia tirar o punhado de parafusos e hastes das minhas costas (estes aí do lado), pois os meus ossos estão consolidados e nesse sentido não há mais nada a se fazer. a partir de agora, é tudo neurológico.

hoje acordei tarde, dia das mães e eu acordei tarde. fui almoçar com a única dos meus avós que ainda está viva (mãe da minha mãe), a vó. várias pessoas estavam lá, comi muito, foi superdivertido. eu sempre fico ao lado do fogão à lenha – minha vó já sabe e sempre deixa um cantinho pronto pra mim. cheguei em cima da hora, pois como já foi dito, acordei tarde. inconscientemente, eu já sabia que hoje não era um bom dia. justo no dia das mães! tentei disfarçar, acho que fui bem sucedido por um tempo, mas logo minha mãe percebeu que algo não estava bem comigo. eu adoro e odeio isso ao mesmo tempo. ela tem um dom de me ler por dentro, só de me olhar (não sei se todas as mães são assim. a minha me “lê” a quilômetros de distância). no fim do dia, meu pai foi me buscar e eu mal pude me despedir dela. era, pra mim, o fato explícito de que algo estava errado entre nós.

quando eu disse, antes, que vocês não entendem, eu quis dizer que ninguém entende o que eu sinto. as minhas dores, os meus pensamentos, as minhas angústias, as minhas alegrias… ninguém sabe como é. através dos meus relatos vocês podem ter uma noção de como é, mas mesmo assim, ninguém, nunca, vai saber como é de verdade. mas eu garanto pra vocês. não é bom. as dores que eu sinto são horríveis e são constantes, com mais ou menos intensidade dependendo da posção em que eu me encontro. geralmente deitado, em posição fetal, é como eu me sinto melhor, e mesmo assim, respirar dói.

quando eu disse antes, que vocês não entendem, que eu estou cansado de viver assim, é por que a grande maioria de vocês, meus amigos que leem o blog, não sabem como é o meu dia a dia. isso, quem sabe é a minha família mais próxima e alguns amigos muito íntimos, com os quais eu tenho a liberdade de falar sobre tudo, ou quase tudo. pois bem, eu vou tentar, mais ou menos, explicar como é um dia na minha vida.

alguns sabem que eu durmo tarde, sempre depois da meia-noite – dificilmente durmo antes disso. devido à falta de sensibilidade que eu tenho das costelas para baixo, eu precisaria mudar de posição de decúbito a cada 2h. com o temppo eu descobri que eu não preciso fazer isso, se tomar alguns cuidados. geralmente eu os tomo. travesseiros auxiliares, posições diferentes, etc. tudo ajuda. mas além disso, eu preciso também acordar a cada 2h para ver se eu fiz xixi (sim, eu não sinto quando faço xixi. para maiores explicações sobre o assunto, clique aqui.) a quantidade de xixi, obviamente, depende da ingestão de líquidos, ou seja, quanto mais eu bebo, mais eu mijo. matemática pura e simples. com um fator agravante, se eu fizer pouco xixi, posso ter infecção urinária (já tive duas, uma quando ainda estava no hospital, me recuperando do acidente; outra que me levou de volta ao hospital, já em santa maria). é tudo questão de controle, há dez meses e por este motivo as camas onde eu durmo devem ter dois lençóis intercalados por um plástico, caso ocorra uma catástrofe, no caso, eu não me acordar a cada 2h e verificar a minha urina. sometimes, it’s just too late. bom, aí troca-se o lençol de cima, e tudo bem, tudo volta ao normal. às vezes esse processo dura 10min, às vezes 30min. calcule, prezado leitor, como é o meu (mau) humor pela manhã depois de uma noite de sono extremamente agradável controlando a minha urina e as posições de dormir a cada 2h, com eventuais trocas de lençóis. pois é.

tem mais. a cada semana, mais ou menos, tem o número dois. heh… achavam que era só isso?? o número dois é pior. devido à falta de marcha (isso quer dizer que eu não caminho), meu intestino foi ficando preguiçoso, digamos. e como a minha lesão foi na coluna torácica, tudo que é controlado dali pra baixo foi afetado, isso inclui um músculo extremamente importante de um corpo humano, e o arguto leitor já sabe que ele se chama esfíncter, o anal. deus na sua eterna bondade, ao inventar esse trauma, pelo menos foi generoso ao deixar o esfíncter permanentemente fechado. bom, aí, meus intestinos vão enchendo à medida que eu como, e eu vou comendo, comendo e o intestino vai processando tudo e enchendo, enchendo. até que ele enche completamente. aí é o dia d. tamanha força e pressão internas fazem o danado do esfíncter abrir - sem avisar -, e ele só fecha quando sai tudinho. pronto, estou limpo. esse é o meu processo de evcuação, que normalmente demora de uma a duas horas e já foi motivo de vários cancelamentos de encontros com amigos. eu não sei quando vem. e quando vem, não há como impedir. uma evolução até agora dessa parte: eu sinto dores de barriga, cólicas monstruosas. e nada disso é indício certo de que eu vou, enfim… defecar. esse é um trabalho que eu não consigo fazer sozinho e que eu jamais pediria ao meu amigo mais amigo do mundo para fazer. questione-se se você pediria? não né. por isso dependo tanto do meu pai e da minha mãe, são eles que literalmente metem a mão na merda pra que eu fique limpinho e cheiroso e possa sair com vocês e me divertir, na medida do possível. e eu confesso a vocês, eles passam por maus bocados. é o tipo de coisa que eu não sei nem por onde começar a agradecer. acho que são coisas que pai e mãe fazem pela gente, não importando a idade que temos. eu ainda pretendo ter filhos, e tenho certeza de que não hesitarei um segundo em limpar a bunda deles, tenham eles a idade que tiverem.

tem mais, mas eu deixo para um segundo capítulo, ok?

a lição que eu tirei do dia de hoje, após falar com várias pessoas sobre a minha vontade de morrer foi que “a vida me espera”; se eu olhar para o lado, tem gente que vive em condições muito piores do que a minha (não que isso me conforte, muito pelo contrário, mas me faz pensar que se essa pessoa que está pior do que eu enfrenta a vida, eu também posso enfrentá-la}; sem querer virei motivo de exemplo para várias pessoas que me escrevem sempre, uma dessas pessoas salvou a minha noite hoje ao dividir um texto comigo (obrigado, meu amigo); desde o início dessa minha aventura eu criei uma máxima: “eu vou buscar a solução disso, demore o tempo que demorar, custe o que custar e doa o que tiver que doer”.

então, sua dor filha da puta, sai fora desse corpo que ele ainda tem muita coisa a fazer nesse mundo. boa semana.