sexta-feira, 14 de maio de 2010

uma flecha que dispara sem rumo

tudo sempre passa muito rápido, rápido como uma flecha, rápido como um cometa... quando a gente percebe, já foi. eu vejo todos ao meu redor falando que cada ano passa mais rápido, que cada dia demora menos pra acabar, que tudo virou rotina, que sempre fazemos as mesmas coisas. mas que diabos! por que a gente faz sempre as mesmas coisas, na mesma ordem, sempre da mesma maneira? porque é cômodo, porque é mais fácil... nós temos tantos problemas pra resolver durante o dia que nem nos damos conta de coisas banais acontecendo ao nosso redor, e são coisas banais que fazem parte da vida, que importam, que a gente deveria se dar conta.

num piscar de olhos eu perdi muito, numa noite que não era pra ter fim, mas que deveria ter acabado muito antes. nós vivemos no limite, sem medir as consequencias dos nossos atos, sem se preocupar com as atitudes que tomamos ou deixamos de tomar. eu deveria ter ido pra casa. mas um fato cármico/cósmico, uma pura fatalidade, a vontade de deus – whatever you name it - me colocou onde eu estou hoje.

muitas vidas foram mudadas com uma atitude minha, o curso da vida de muitas pessoas simplesmente teve que ser alterado bruscamente por causa de uma atitude egoísta minha. eu desencadeei uma série de eventos que mexeu no balanço do sistema solar. viagem? talvez?

eu costumava não acreditar muito em coisas que não podiam ser cientificamente comprovadas, costumava acreditar naquilo que estava ao alcance da minha mão. ainda tenho esse cacoete de duvidar de coisas que não podem ser explicadas. esse meu ceticismo foi se formando, não sei de que maneira, mas foi se petrificando dentro de mim e foi tomando conta do meu ser. divagando, o que é o amor? como começa, por que começa? de onde vem? o amor não é cientifico, mas eu sei que eu tive três amores na minha vida até agora, cada um com a sua intensidade, mas foram três, consigo enumerá-los, consigo lembrar como foi, como começou e como terminou. como terminaram comigo. t., j., t. de novo e c. começou aos 15 e terminou na noite em que eu festejava os 31. que bela maneira de se festejar um aniversário. terminando o namoro que mais durou, o que foi mais forte, o que mais doeu, o que mais me fez feliz, o que mais me fez aprender e, acho, o que eu mais ensinei. ainda, depois do acidente, teve a cinderela, que eu considero como o meu quarto amor, mas sobre esse já falei bastante, não é, caro leitor?

passei uma tarde inteira pensando de que forma as pessoas enxergam estas mudanças que lhes foram impostas, como elas encaram isso, como é que elas reagem, por que se abstem, porque se prontificam. me engano ou é uma relação de troca? é como o amor verdadeiro, que só existe no egoísmo? acho que ninguém gostaria de estar no meu lugar hoje, precisando de alguém para fazer muitas coisas banais que eu fazia sem prestar atenção; minha mãe, quando eu era criança, sempre me dizia para tomar água devagar, quando eu chegava em casa esbaforido de uma tarde de futebol com os amiguinhos da rua e enfiava a cabeça embaixo de uma torneira e entupia o estômago de água até não poder mais; segundo ela, eu tinha que sentir o gosto da água. a minha resposta era sempre a mesma: “mãe, água nào tem gosto, é inodora, incolor e insípida; não tem gosto”. hoje eu sei que água tem gosto, sim. tem gosto de água.

tudo pra mim, hoje, é difícil ao quadrado; locomoção, principalmente, necessidades físicas, dormir, sentar, tudo, enfim. mas tudo que eu faço hoje, eu presto atenção, os mínimos movimentos, as posições para dormir, o jeito de sentar, o equilíbrio do corpo. eu to passando por uma fase em que tudo está mudando e eu to tendo a capacidade de perceber estas mudanças. i'm aware now.

eu estou cada vez mais consciente do que se passa ao meu redor, e consigo ter atitudes que condizem com o que está acontecendo. eu estou amadurecendo aos 33 anos, achando que tinha amadurecido aos 23. questões do tipo: o que vai ser da minha vida agora? como eu vou me virar? vou ter todas as minhas habilidades físicas restabelecidas? pra onde vou? dentre milhares de outras do gênero, povoam a minha cabeça, mas não me assustam mais. novamente eu não sei o que quero da minha vida, aos 33 anos (já sei mais ou menos), quando eu já deveria estar casado, bem estabelecido, com filhos, como manda o figurino e como eu acho que meu pai gostaria... mas esse não sou eu. eu descobri que eu sou um ser mutável que não gosta muito de obedecer os padrões que a sociedade me impõe, que não gosta de ficar sossegado num canto do mundo vendo a vida passar como uma flecha, ou como um cometa, se preferirem. eu quero mais. não sei como, nem com quem, nem quando e muito menos porque... mas eu quero mais.

aquele segundo em que eu perdi o controle do carro que saiu da estrada e que bateu em uma árvore e capotou e que me deixou assim momentameamente, e que salvou duas vidas além da minha, passou, como uma flecha. e não volta mais, infelizmente, ou felizmente. mas não volta MESMO. e eu não me lamento por isso, pelo contrário agradeço por não ter morrido, e tava bem fácil de morrer naquela hora, e por não ter matado duas pessoas maravilhosas que hoje, coincidência ou não do destino, fazem parte da minha vida de uma forma indelével. agradeço por ver que tenho uma família, que apesar de todos os defeitos, me ama, me quer bem e faz de tudo pra eu me sentir bem do jeito como estou. it ain't easy babe... it ain't easy, mas algo mudou, e mudou pra melhor. era preciso. será que estava escrito? você, leitor, acredita nisso? eu não acreditava, e ainda não sei se acredito, mas que precisava, precisava. era o único jeito de me parar.